Fico pensando em como você é louca em sair às seis da manhã nesse frio cortante.
Não só isso, te acho louca mesmo quando você chega na minha casa depois de dirigir mais de uma hora. Mais de uma hora dirigindo após oito horas de trabalho.
Louca.
Você acha que pegou o jeito, a manha, acha que não noto quando sai de mansinho quando amanhece. Eu noto, meu bem. Vejo tudo, te observo em silêncio enquanto veste a roupa.
O motivo do silêncio? Se abro a boca é para pedir pra ficar.
Você ficaria. Ficaria pro café, pro almoço, pro jantar.
Dorme comigo de novo?
Você dormiria.
Por isso me calo, hesito e finjo estar sonolenta quando você me beija antes de sair. Você vai embora e eu vou até a janela ver você sair, quando passa pelo portão, volto pra cama.
Sabe que sempre fico te olhando dormindo? Tiro a franja que insiste em cair sobre seus olhos, sono leve, semblante calmo, nariz vermelho por conta do frio.
Quase toco seus lábios com as pontas dos meus dedos. Faço pausas dramáticas.
Você estica os braços e me afasto. Sabia que sempre estica os braços antes de acordar?
Já sei de todos os seus movimentos.
Agora você deve estar passando na estrada com neblina. A estrada que gostamos de passar, a estrada que gostamos de passar principalmente quando está cinza por todos os lados. Há essa hora você já ligou o ar-quente, já colocou o cd que gravei pra você pra tocar. Caetano ou Wilco? Marvin Gaye ou The National? Bishop Allen, talvez. Fico imaginando qual música escuta agora.
Agora vou tomar café na caneca que você me deu. Café pra acordar pro dia. Já que, hoje, pela manhã, quando me deu mais um beijo antes de sair, você me acordou mais uma vez pra vida.
Tem sido assim desde então...
Bom trabalho, meu amor.
