quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Bodas de Pérola

Ontem foi aniversário de casamento dos meus pais. 30 anos de união. Tempo pra caralho.
O dia teria sido agradável se não fosse o fato do meu pai ter esquecido a data. Não só ele, como também, minha irmã e eu. Logo eu, com minha memória extraordinária.
As coisas mudam.
Se a minha mãe fosse como a maioria das mulheres, ela faria algum tipo de drama. Mas não houve nada. Ela não ficou chateada, nada. Nada mesmo.
Nesses 30 anos ela descobriu e sabe muito bem de todas as arestas de quem esteve ao seu lado por todo esse tempo.
Estando dentro desse círculo há 24 anos, não vi uma vez malas sendo feitas e/ou desfeitas. Nunca tive visitas esporádicas de um ou outro, assim como não ouvi barulho de pratos caindo no chão ou copos sendo arremessados na parede.
Por outro lado, já presenciei silêncios constrangedores, dias de hostilidade barata e gentilezas forçadas. Com o tempo tudo passava. Sempre passou.

Apesar de tudo, meus pais são pessoas bonitas. Filhos de pessoas também bonitas.
Tanto meus avós maternos quanto paternos completaram bodas de ouro (não que isso seja fator determinante pra alguém ser bonito). Nos dois casos, o casamento só ‘terminou’ quando a morte chegou para um dos dois. Certeza de que foi o mais próximo que cheguei de casamento feliz.

Voltando aos meus, meu pai é um cara bacana, simples, silencioso em relação aos sentimentos, tagarela quanto ao resto. Só consigo imaginá-lo no futuro numa casa no campo com cercas amarelas e cadeira de balanço na varanda.
Minha mãe é difícil, por vezes, bastante intolerante, agressiva, rude e tudo mais. Isso é a capa, por dentro ela é tão frágil e romântica quanto a menina que ela foi há 30 anos.
Menina essa que, conheceu um cara que estava noivo e de casamento marcado, então ela se apaixonou por ele, ele também se apaixonou por ela e em menos de uma semana ele cancelou o casamento e casou-se com ela. E aí começou tudo.

Ela é o cérebro da casa.
Ele o coração.
Ele é Cash.
Ela é June.

Beatles – The End
would you really rush out for me now?
"- Pára. Ai, pára. Ai, ai. Pára.
- Pronto. Já parei.
- Quietinho.
- ...
- Não, não. O punhal deixa ficar."
Marc Johns




terça-feira, 25 de novembro de 2008

Bob Dylan - Moonshiner

ele me mata


I've been a moonshiner,
For seventeen long years,
I've spent all my money,
On whiskey and beer,
I go to some hollow,
And sit at my still
And if whiskey dont kill me,
Then I dont know what will,

I go to some bar room,
And drink with my friends,
Where the women cant follow,
And see what I spend,
God bless them pretty women,
I wish they was mine,
Their breath is as sweet,
The dew on the vine,

Let me eat when I am hungry,
Let me drink when I am dry,
A dollar when I am hard up,
Religion when I die,
The whole world's a bottle,
And life's but a dram,
When the bottle gets empty,
It sure ain't worth a damn
.
Kurt Halsey




Ah, minha tatuagem...você precisa de retoques.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

os tênis se vão, os desenhos ficam...





desenhos dele
Sem Ana, Blues

QUANDO Ana me deixou - essa frase ficou na minha cabeça, de dois jeitos - e depois que Ana me deixou. Sei que não é exatamente uma frase, só um começo de frase, mas foi o que ficou na minha cabeça. Eu pensava assim: quando Ana me deixou - e essa não-continuação era a única espécie de não continuação que vinha. Entre aquele quando e aquele depois, não havia nada mais na minha cabeça nem na minha vida além do espaço em branco deixado pela ausência de Ana, embora eu pudesse preenchê-lo - esse espaço branco sem Ana - de muitas formas, tantas quantas quisesse, com palavras ou ações. Ou não-palavras e não-ações, porque o silêncio e a imobilidade foram dois dos jeitos menos dolorosos que encontrei, naquele tempo, para ocupar meus dias, meu apartamento, minha cama, meus passeios, meus jantares, meus pensamentos, minhas trepadas e todas essas outras coisas que formam uma vida com ou sem alguém como Ana dentro dela.

“porque é começo de verão e o suor que escorre pelo meu corpo começa a molhar as mãos e a dissolver a tinta das letras no bilhete de Ana - depois que Ana me deixou, como ia dizendo, dei para beber, como é de praxe.”

“De todos aqueles dias seguintes, só guardei três gostos na boca - de vodca, de lágrima e de café. O de vodca, sem água nem limão ou suco de laranja, vodca pura, transparente, meio viscosa, durante as noites em que chegava em casa e, sem Ana, sentava no sofá para beber no último copo de cristal que sobrara de uma briga. O gosto de lágrimas chegava nas madrugadas, quando conseguia me arrastar da sala para o quarto e me jogava na cama grande, sem Ana, cujos lençóis não troquei durante muito tempo porque ainda guardavam o cheiro dela, e então me batia e gemia arranhando as paredes com as unhas, abraçava os travesseiros como se fossem o corpo dela, e chorava e chorava e chorava até dormir sonos de pedra sem sonhos. O gosto de café sem açúcar acompanhava manhãs de ressaca e tardes na agência, entre textos de publicidade e sustos a cada vez que o telefone tocava. Porque no meio dos restos dos gostos de vodca, lágrima e café, entre as pontadas na cabeça, o nojo da boca do estômago e os olhos inchados, principalmente às sextas-feiras, pouco antes de desabarem sobre mim aqueles sábados e domingos nunca mais com Ana, vinha a certeza de que, de repente, bem normal, alguém diria telefone-para-você e do outro lado da linha aquela voz conhecida diria sinto-falta-quero-voltar. Isso nunca aconteceu”

“enfiava devagar a ponta do dedo indicador cada vez mais fundo na garganta, até que quase toda a vodca, junto com uns restos de sanduíches que comera durante o dia, porque não conseguia engolir quase mais nada, naqueles dias, e o gosto dos muitos cigarros se derramassem misturados pela boca dentro do vaso de louça amarela que não era o corpo de Ana. Vomitava e vomitava de madrugada, abandonado no meio do deserto como um santo que Deus largou em plena penitência - e só sabia perguntar por que, por que, por que, meu Deus, me abandonaste? Nunca ouvi a resposta.”
“depois daqueles dias começou o tempo em que eu queria matar Ana dentro de tudo aquilo que era eu, e que incluía aquela cama, aquele quarto, aquela sala, aquela mesa, aquele apartamento, aquela vida que tinha se tornado a minha depois que Ana me deixou.”

“Mandei para a lavanderia os lençóis verde-clarinhos que ainda guardavam o cheiro de Ana - e seria cruel demais para mim lembrar agora que cheiro era esse, aquele, bem na curva onde o pescoço se transforma em ombro, um lugar onde o cheiro de nenhuma pessoa é igual ao cheiro de outra pessoa”
“e comecei a trazer outras mulheres para casa. Mulheres que não eram Ana, mulheres que jamais poderiam ser Ana, mulheres que não tinham nem teriam nada a ver com Ana. Se Ana tinha os seios pequenos e duros, eu as escolhia pelos seios grandes e moles, se Ana tinha os cabelos quase louros, eu as trazia de cabelos pretos, se Ana tivesse a voz rouca eu a selecionava pelas vozes estridentes que gemiam coisas vulgares quando estávamos trepando, bem diversas das que Ana dizia ou não dizia, ela nunca dizia nada além de amor-amor ou meu-menino-querido, passando dos dedos da mão direita na minha nuca e os dedos da mão esquerda pelas minhas costas.”

“Eu acho que já vim aqui uma vez, alguma dizia, e eu falava não lembro, pode ser, esperando que tirasse a roupa enquanto eu bebia um pouco mais para depois tentar entrar nela, mas meu pau quase nunca obedecia, então eu afundava a cabeça nos seus peitos e choramingava babando sabe, depois que Ana me deixou eu nunca mais, e mesmo quando meu pau finalmente endurecia, depois que eu conseguia gozar seco ardido dentro dela, me enxugar com alguma toalha e expulsá-la com um cheque cinco estrelas, sem cruzar, então eu me jogava de bruços na cama e pedia perdão à Ana por traí-la assim, com aquelas vagabundas. Trair Ana, que me abandonara, doía mais que ela ter me abandonado, sem se importar que eu naufragasse toda noite no enorme corredor de transatlântico daquele apartamento em plena tempestade, sem salva-vidas.”

“Porque nunca contei a ninguém de Ana. Nunca ninguém soube de Ana em minha vida. Nunca dividi Ana com ninguém. Nunca ninguém jamais soube de tudo isso ou aquilo que aconteceu quando e depois que Ana me deixou.”

“Para sempre então, agora, me sinto uma bolha opaca de sabão, suspensa ali no centro da sala do apartamento, à espera de que entre um vento súbito pela janela aberta para levá-la dali, essa bolha estúpida, ou que alguém espete nela um alfinete, para que de repente estoure nesse ar azulado que mais parece o interior de um aquário, e desapareça sem deixar marcas.”

domingo, 23 de novembro de 2008

Björk and Antony - Dull Flame of Desire


divas!

sábado, 22 de novembro de 2008

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

So keep your love locked down...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Eles

Os dias estão bem frios por aqui. Dá pra ir dormir e acordar com o barulho da chuva.
Não poderia ser melhor.

Em dias assim, nada melhor que ele:

"She said let's put a plastic bag over our heads
and then kiss and stuff 'til we get dizzy and fall on the bed.
We were in heaven for five or six minutes, then we passed out
and I was so in love I thought I knew what love was all about."




e ele:

"vento entrando, remexendo nos cabelos, no rosto, jeito de lágrima querendo rolar."
Sossega, coração.

What Else But Love?



Do jeito que gosto.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

The Verve - Lucky Man

1998



"gotta love that'll never die"

The Verve - Love Is Noise

2008



"love is these blues that i'm feeling again"

Amo The Verve desde os tempos de colégio.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Just Like...

Preciso dizer que estou consideravelmente triste por não ir ver Jesus and Mary Chain.
Estou é muito triste.

Vou procurar algum sítio/fazenda/pocilga desse Goiás. Que não tenha internet, tv, rádio, sinal de celular, indies/góticos ou qualquer coisa do tipo.

Aí fico lá por três dias.

Até segunda.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Banksy, Obama, Ting Tings...







\o/



For the last time you will kiss my lips, now shut up and let me go!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Diablo Cody

Abaixo, alguns trechos do texto publicado na revista Piauí desse mês.

“Em Janeiro de 2003, quando tinha 24 anos e estava cheia da cidade grande, me mudei de Chicago para Minneapolis. Como muitos corações solitários, tinha conhecido meu namorado Jonny na “perda de tempo mundial”, ou seja, na internet (especificamente num site sobre a fase psicodélica dos Beach Boys e a subseqüente derrocada do Brian Wilson rumo a terapia radical e todo aquele drama). Nosso namoro floresceu para o mundo real quando Jonny, do nada, me mandou um e-mail bastante curioso.
Ele tinha uma maravilhosa gravação pirata dos Beach Boys, um raro fragmento instrumental da música I’m in Great Shape, do final de 1966. Apenas uma elite de gordos que não compartilha nada com ninguém tivera acesso à gravação, mas Jonny galantemente a ofereceu para mim como se fosse uma gardênia sonora.
Como uma virgem poderia resistir aquele vinil? Aceitei o símbolo de amor nerd com um desmaio devidamente criptografado e protegido de vírus cibernético, e um romance acabava de nascer. Imediatamente atirei meu namorado da época no fundo do poço com a força de uma bazuca. Logo enviávamos um ao outro fitas de músicas extremamente confessionais (nada simboliza melhor o amor verdadeiro do que fitas cassetes cinzentas com os nomes das músicas escritos a mão).”

“Inspirada pelos talentos musicais de Jonny, tentei aprender a tocar, mas, quando finalmente fiz um teste para uma banda de eletropop, os membros do grupo me olharam como se eu estivesse peidando o tema de Mahogany, aquele filme brega com a Diana Ross. Fiquei chateada com a rejeição, e meu baixo rapidamente adquiriu uma grossa camada de poeira, o que foi realmente uma merda, porque eu queria ter uma presença de palco como a da Kim Gordon, do Sonic Youth, ou da Kim Deal, dos Pixies, ou de qualquer baixista de cabelos lisos escorridos chamada Kim que tenha sido minha heroína na adolescência.”

“Além disso, eu secretamente imaginava todas as strippers como membros de uma irmandade muito unida, que compartilhavam piadas picantes engraçadíssimas, trocavam fantasias, bebiam Gim e cuidavam de bebês das outras nas noites de folga.”

“Lição número um: até uma garota que acabou de parir pode ser glamurosa com os sapatos certos.”
Billy Name

Warhol e Nico por Billy Name





Gosto do fato dele ter vivido por 2 anos dentro da sala de revelação.
É muito amor.
Beatles ou Elvis?

Um travesseiro, quem sabe.

Ela tomou Beatles e agora não consegue dormir.
Fala sem parar.
Faz perguntas que não sei responder.
Faz com que eu dê mute em Television.
Fala sobre Dylan.
Escreve em Caps Lock.
Diz que seu rosto está feio e que os buracos estão maiores.
Diz que a mãe enlouqueceu de verdade.

Há alguns segundos não diz nada. Deve ter dormido.

Beatles= doce
Elvis= bala

Coisas que, eu não ouviria se não fosse por ela.
Certeza.